A Necropolítica de Achille Mbembe

Texto das professoras Milena e Manu

Olá, futuros calouros. O PAS, no ano de 2020, decidiu substituir algumas das antigas obras cobradas na prova. Por conta disso, a prova de filosofia da terceira etapa conta com duas novas obras, são elas: “Necropolítica”, do filósofo camaronês Achille Mbembe, e “Sobre a violência”, da filósofa Hannah Arendt. Para ajudar vocês, nesse texto vou trazer umas chaves de leitura para a obra de Mbembe, já que eu a considero a mais difícil de ser compreendida. Também faremos algumas previsões sobre como a obra pode cair no PAS 3.

De início, devemos pensar que:

  • Achille Mbembe está vivo, ao passo que os filósofos cobrados anteriormente estavam todos mortos. 
  • Mbembe é camaronês, e Camarões é um país que está localizado na África. Os filósofos anteriores eram todos europeus. 
  • Mbembe é um filósofo negro, os filósofos anteriores eram todos brancos.

Com as ressalvas feitas, vamos ao que interessa: como essa obra pode cair no PAS? Quais são os principais conceitos trazidos por Mbembe?

A Necropolítica é uma obra riquíssima. O filósofo trata sobre vários outros filósofos (incluindo Hannah Arendt, que também tem uma obra no PAS) e sobre vários períodos históricos. 

O objetivo do texto de Mbembe é tratar acerca da ‘política da morte’. Mas que tipo de morte? Aquela causada pelo racismo. O filósofo diz: “(…) a raça foi a sombra sempre presente no pensamento e na prática das políticas do Ocidente, especialmente quando se trata de imaginar a desumanidade de povos estrangeiros – ou a dominação a ser exercida sobre eles”. Voilà, pegamos o objetivo. Vamos dissecar essa afirmação juntos? E de quebra ainda entendermos a crítica de Mbembe à modernidade? 

Os filósofos modernos que viviam na Europa eram, em grande parte, racionalistas, ou seja, entendiam que a razão deveria reger o mundo, a exemplo disso: René Descartes. Mas ao mesmo tempo que esse movimento se desenvolvia na Europa, pessoas negras eram escravizadas pelo colonialismo (época que países europeus colonizavam outros países e escravizavam/exterminavam seus habitantes), consideradas destituídas de razão e de humanidade. Essas pessoas podiam morrer sem problemas, já que não “tinham alma” nem eram consideradas pessoas como os europeus, mas uma categoria de animais. 

Como se defendia, durante a modernidade, que a razão devia reger o mundo, enquanto, ao mesmo tempo, esse massacre negro acontecia e os próprios filósofos racionalistas até defendiam a escravatura? Diante disso tudo, essa crítica à modernidade é uma grande candidata a se tornar uma questão, junto com a temática racial trazida por Mbembe.

Existem alguns outros filósofos que são centrais para a argumentação de Mbembe, e a eles devemos uma atenção especial. O primeiro é Michel Foucault, com seu conceito de biopoder. O segundo é o filósofo Hegel, e a ideia de trabalho da morte. Hannah Arendt não fica de fora, então vocês podem ler as duas obras e procurar pontos em comum, ou até mesmo, pontos extremamente conflitantes entre Arendt e Mbembe. 

Outra ideia que é muito forte, mas que pode nos parecer tímida, é a da política da inimizade. Esse conceito trata sobre a percepção da existência do Outro como um risco e um atentado contra minha vida, uma ameaça mortal ou um perigo absoluto, e sua eliminação reforçaria minha segurança e minha própria vida. Dessa forma, o aniquilamento em massa daquele que é diferente de mim não é só desejável, mas necessário. Esse conceito versa sobre alteridade: enquanto nós temos um sujeito padrão, temos um totalmente sem padrão. Um aceitável, outro aniquilável. Um com alma e direitos, outro um animal irracional. Dessa forma, sugiro quê vocês se atentem a política da inimizade, pois pode passar despercebida e o PAS se aproveitar disso e criar uma questão sobre.

Pensando por outro lado, pensem muito sobre outros tipos de necropolítica para além da ‘morte matada’, da escravidão. Pensem na morte dos sonhos, dos ideais, por conta de preconceito racial. Pensem nas dificuldades que jovens negros passam na sociedade, seja pelo racismo, seja segregação social, pelas abordagens policiais que sempre os veem como indivíduo suspeito… Uma possível relação é entre o texto de Mbembe e o epistemicídio, o homicídio da episteme (conhecimento). O epistemicídio é o aniquilamento, a negação e atribuição negativa de valor aos conhecimentos e à cultura de um povo, tradicionalmente gerido por parte de culturas brancas e ocidentais (entendidas como o oposto das culturas negras, africanas, árabes, orientais…). É um fruto do colonialismo, que subordinou a cultura dos povos e países conquistados, atribuindo valores positivos e superiores a tudo que vinha do conquistador, em detrimento de tudo que veio do conquistado.

Essa nova obra é muito rica, espero que vocês possam aproveitar cada pedacinho dela, tanto na prova, quanto na vida.  

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