Olá, futuros calouros!! Como vocês estão? Hoje vim dar algumas dicas de obras que podem cair no PAS 3 relacionadas à temática da desigualdade de gênero. Escolhi esse tema por causa da recorrência que ele teve nas provas de 2018 e 2019, e levando em consideração a matriz de 2020 (vai fazer o PAS e ainda não leu a matriz? Termine de ler esse post e vá conferir!). Eu vou marcar em negrito palavras-chave de temas que também são recorrentes nas provas, então fica atento! E só mais um lembrete: ao pesquisar sobre as obras, lembre de contextualizá-las historicamente. Isso vai facilitar muito sua análise.
Antes de mais nada: o gênero é uma construção social e cultural presente em diversas culturas e visto de formas diferentes em cada uma delas. O PAS é uma prova que busca a visão crítica dos estudantes, portanto, as desigualdades de gênero não devem ser naturalizadas, mas pensadas através de questionamentos profundos e analíticos e do estranhamento daquilo que parece familiar e “normal”. Agora vamos para as obras!
A Série Roupa-corpo-roupa: “O eu e o tu” – Queer nos convida a refletir sobre nossas experiências corpóreas como humanos, antes de tudo, já que a artista Lygia Clark propõe nesta obra interativa a “exploração táctil” do corpo do sexo oposto, permitindo “uma sensação feminina ao homem, e à mulher, uma sensação masculina.” Isso redimensiona nossas perspectivas: não é possível identificar o gênero dos corpos vestidos de azul ao ver de fora, mas por dentro essa dualidade e sensibilidade são exploradas através do toque. A matriz aborda esta obra ao falar de “possibilidades de mudanças e transformações individuais e coletivas”, sendo possível também refletir sobre o papel da contracultura nas mudanças de paradigmas socialmente impostos, principalmente as que foram inauguradas no século XX (como enxergar o corpo primariamente através do gênero pode ser uma limitação), além de questões relacionadas à alteridade.
Já a obra audiovisual À margem do corpo, da professora Débora Diniz, o conto Maria, de Conceição Evaristo, e a música Camila, Camila, da banda Nenhum de Nós, retratam a violência física contra a mulher, principalmente aquelas em situação de maior vulnerabilidade. O documentário conta a história de Deusel, uma mulher negra de 19 anos que possuía transtornos mentais. Ela foi estuprada e não foi autorizada a realizar um aborto legal. O conto narra um mau encontro pelo qual a personagem Maria passa, que a faz ser vítima de um linchamento público. Já a letra da música aborda o assédio e a violência sexual através de uma narração afetiva. Ambas as obras podem levar a questões no PAS relacionadas às relações de poder na sociedade brasileira, que leva à marginalização de determinados corpos em detrimento do privilégio de outros, à interseccionalidade, à questão dos direitos individuais e sua (não) universalização (principalmente! Esse é um tema que cai muito no PAS 3), e até mesmo ao contexto histórico dessa violência que desde a colonização atinge diferentes mulheres de formas variadas. A música “Camila, Camila” pode ser aplicada em questões sobre a situação psicológica das mulheres que vivem em um país de cultura patriarcal, ou a relação entre indivíduo e sociedade: ou seja, como questões individuais impactam a estrutura social e vice-versa.
O livro A caolha, de Júlia Lopes de Almeida, levanta questionamentos ao caricaturar o papel de mãe cuidadora que tudo suporta e tudo aceita, inclusive inúmeras formas de rejeição. Este aborda, mais uma vez, os papéis sociais impostos às mulheres: o cuidado, o zelo, a família… Contudo, “o caráter restrito” das críticas levantadas pela autora “reflete um posicionamento que evita o enfrentamento direto, utiliza um discurso que pode até ser considerado atenuado, porque tenta se inserir num meio hostil, podendo falar de suas reflexões, vez por outra, por suas personagens e narrações, como em A Caolha.” Recomendo a leitura desta interpretação do conto!
A música Mulamba, de Mulamba, suscita a questão do empoderamento feminino e do enfrentamento direto às relações de poder estabelecidas na nossa sociedade e às estruturas patriarcais. “Mulamba” demonstra as múltiplas possibilidades que a vida de uma mulher pode ter, recusando normas sociais impostas e a violência direta e indireta.
Por fim, o documentário Poética da diáspora, em que a historiadora Elena Parejo Peres mostra como, por mais que o Estado brasileiro e a sociedade tenham tornado tortuosos os caminhos das mulheres, principalmente das mulheres negras, a vocalização de suas histórias, testemunhos, sonhos e realidades ainda pulsa. Ela fala sobre a história e trabalho da autora brasileira Carolina Maria de Jesus, que ficou conhecida pela obra “Quarto de despejo”. Após a publicação deste livro tornou-se muito reconhecida nacional e internacionalmente. Contudo, após a publicação do segundo livro, “Casa de Alvenaria”, criticou o reconhecimento espalhafatoso que recebeu, como Elena coloca, e foi aconselhada a parar de escrever. Mas essa nunca foi uma opção, e Carolina continuou fazendo o que sentia que deveria. Essa produção audiovisual não trata apenas a questão da desigualdade de gênero: aborda principalmente a questão da diáspora africana, das relações étnicas e da estratificação social no Brasil. Mas esses temas vão ficar para o próximo texto!
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Bibliografia:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1694/lygia-clark