O Reino de Axum ou Império de Axum foi um dos mais proeminentes reinos africanos da antiguidade, tendo sido responsável pela conquista do Reino de Kush (outro reino africano importante, onde as mulheres possuíam certa relevância política). O Reino de Axum tornou-se um grande Império comercial, – sendo, inclusive, um dos primeiros Estados africanos a cunhar moedas – dominando o comércio do Mar Vermelho no início da Era Cristã.
No século I ocorreu a propagação do Cristianismo, devido a conversão do Rei que governava essa sociedade. Entretanto, ao longo da construção dessa civilização, diversas influências culturais foram recebidas. Portanto, é importante ressaltar que o monoteísmo ali estabelecido ainda era impactado por tais influências.
O debate sobre a relevância do Reino de Axum foi suscitado após a temática ter aparecido na prova do PAS 1 de 2020 (aplicada em 2021). Apesar de tais conteúdos dificilmente serem abordados em sala de aula, a Lei 10.639 de 2003 estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, o que inclui o estudo da História da África e suas civilizações antigas.
Muito embora estejamos acostumados a estudar a civilização clássica, basicamente Grécia e Roma, a antiguidade oriental também está no conteúdo programático do primeiro ano do ensino médio. Mas, infelizmente, são poucas as escolas que a adotam em seus currículos, sendo a iniciativa pessoal dos professores de ministrarem suas aulas acerca deste conteúdo a maneira mais comum dos alunos terem contato com ele. Ou seja, é bem capaz que você não tenha tido um contato aprofundado com História da África, pois esse não costuma ser um tópico que as escolas consideram relevante.
Tal linha de raciocínio não se restringe apenas ao ensino básico, é só a partir da promulgação da Lei em 2003 que as Universidades Federais passaram a adotar em seus currículos disciplinas referentes à História da África. Esse processo advém da luta pelo reconhecimento de saberes que vão além do que estamos acostumados, pois estamos acostumados com o pensamento ocidental que privilegia a história e as formas de conhecimento europeias. É exatamente a isso que se contrapõe a obra “O perigo de uma história única” de Chimamanda Adichie.
Sobre as questões propriamente ditas, o Reino de Axum possuía conexões com as culturas grega, egípcia e árabe, tanto pelo comércio, quanto pela sua posição geográfica, tendo adotado o cristianismo no primeiro milênio da Era Cristã, mais precisamente no século IV. Apesar das trocas comerciais com o Império Romano, o seu “forte enraizamento” se dava com mais efetividade no Mar Vermelho e não no “Mediterrâneo greco-romano”. E a Etiópia, que hoje ocupa o território em que antes estava localizado o Império de Axum, realmente possui uma centralidade nos movimentos pan-africanistas, devido a sua forte resistência anticolonial. Mesmo que os movimentos anticoloniais sejam um conteúdo do PAS 3, a inferência acerca desse item poderia ser feita através da interpretação do texto precedente.
O questionamento que podemos extrair do ocorrido é: será que iremos estudar efetivamente História da África nas escolas, agora que os vestibulares fazem menção de abordar tal temática?
Esperamos que sim, pois desse modo estaremos fugindo da “história única”.