Por que sofista?

Sofista, do grego, sophistes (σοφιστης), significa ‘pensador’. O termo sofista deriva das palavras gregas sofia (σοφἰα), que traduzimos por sabedoria, e do termo sofos (σοφὀσ), que traduzimos por sábio.

No entanto, essa proximidade entre os termos sábio/sabedoria é apenas uma questão estrutural da língua grega antiga, pois os sofistas, desde a antiguidade, possuem a fama de serem charlatães, inimigos do verdadeiro conhecimento, ao contrário dos filósofos.  Nesse sentido, vale a pena perguntar: quem eram os principais sofistas? o que aconteceu com esses pensadores para carregarem má fama desde a antiguidade?

Conhecendo os sofistas:

Um dos sofistas mais famosos se chamava Protágoras de Abdera. Sobre ele, não podemos afirmar muitas coisas, visto que seus escritos se perderam com o tempo e nos restou apenas fragmentos. Seu princípio mais famoso é: ‘o homem é a medida de todas as coisas’. Por essa frase, podemos inferir que Protágoras entendia que o conhecimento depende totalmente de nossas percepções subjetivas.

O segundo sofista mais famoso se chamava Górgias. Sobre ele, temos alguns escritos que sobreviveram ao tema. Para ele, não há verdade possível, mas apenas a crença é possível, e nós obtemos uma crença através da emoção que um discurso pode nos causar.

Por qual motivo os sofistas se tornaram os inimigos do saber?

Para entendermos o que aconteceu, basta perguntarmos a Platão, que é o grande responsável por essa fama ruim dos sofistas: o filósofo os retratou como impostores, mentirosos e demagogos, fazendo com que o sentido da palavra sofista se tornasse pejorativo, perdendo o sentido original. Em seus diálogos, Platão sempre fez questão de desmoralizar os sofistas, só porque eles não compartilhavam da mesma opinião.

Mas, além dos péssimos testemunhos deixados por Platão, nós podemos pensar os sofistas de uma maneira além. Contextualizando o que estamos tratando aqui, o acesso à filosofia na antiguidade não era democrático. A maioria dos filósofos conhecidos eram de famílias ricas e influentes e, dessa forma, conseguiam acessar o conhecimento, com exceção de Sócrates.

Comecemos pelo filósofo Tales de Mileto, que era de origem fenícia e descendia de pessoas nobres. Platão descendia de uma das mais prestigiosas linhagens da política ateniense. Aristóteles era filho de um médico, ele tinha contato com figuras muito importantes, como o rei macedônio Amintas III, na sequência foi mestre de Alexandre, O Grande. O que podemos perceber entre os filósofos citados é o fato de que tinham nascido em famílias influentes, e essa era a regra. Se você fosse rico, não precisava trabalhar, logo poderia se dedicar integralmente à filosofia, e por isso Aristóteles era um grande defensor da escravidão: quanto mais pessoas pobres trabalhassem, por mais tempo, menos os intelectuais teriam que trabalhar, e teriam mais tempo pra pensar.

E é nesse ponto que os sofistas entram: eles são considerados, hoje, por nós, como mestres da arte e da educação. Antes, apenas os nobres tinham acesso à educação, mas não era apenas por uma questão de dinheiro, os nobres tinham acesso ao que queriam por conta da nobreza, do status. Mas, com o aparecimento dos sofistas, um cidadão poderia pagar um valor X e ter acesso a arte da retórica. A retórica era de extrema importância para os gregos, pois toda a vida da população era decidida na ágora, que era uma praça onde os homens se reuniam para decidir o futuro da cidade através da argumentação.

Sem a retórica, as pessoas mais simples ficavam sem a fala nos debates e seus interesses nunca eram representados. Mas, com o surgimento dos sofistas, todo esse contexto muda, as pessoas mais simples ganharam o poder da fala, e, por conta disso, os aristocratas nunca perdoaram os primeiros professores da história.

E, por esse motivo, nós nos denominamos sofistas: por um preço acessível, nós estamos aqui por vocês, futuros calouros, com a intenção que vocês consigam ter acesso ao ensino público de qualidade, e que a Universidade de Brasília seja representada por todos, da forma mais democrática possível.

 

REFERÊNCIAS:

CASTRO, R. Platão contra os Sofistas: Contra a retórica.  Portugal: Universidade do Porto, 2013.

CHAUÍ, M. Introdução à História da Filosofia: Dos Pré-Socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

LAÊRTIOS, D. Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres. Brasília: Editora UnB, 2014.

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